Fui certa vez ouvir uma conferência dada por um médico norte-americano chamado Bernard Nathanson, que, para começar, pousou as mãos abertas sobre a mesa e disse que aquelas mãos tinham feito muitos milhares de vítimas. Era um homem profundamente arrependido, que corria o mundo procurando resgatar alguma paz interior, um homem perseguido por terríveis remorsos. A utilização de uma nova tecnologia para estudar o feto no útero, quando se tornou director de um grande hospital de obstetrícia, fê-lo compreender a enormidade do seu erro.
Pessoalmente responsável por 75 000 abortos, tinha sido pioneiro do abortismo nos Estados Unidos, fundando o N.A.R.A.L com o propósito de revogar as leis americanas, que eram contrárias ao aborto. Em apenas cinco anos, de 1968 a 1973, apesar de a maioria dos americanos serem contra o aborto livre, conseguiu que este fosse legalizado até ao momento anterior ao nascimento.
Pessoalmente responsável por 75 000 abortos, tinha sido pioneiro do abortismo nos Estados Unidos, fundando o N.A.R.A.L com o propósito de revogar as leis americanas, que eram contrárias ao aborto. Em apenas cinco anos, de 1968 a 1973, apesar de a maioria dos americanos serem contra o aborto livre, conseguiu que este fosse legalizado até ao momento anterior ao nascimento.
Como o conseguiu? No seu livro The Hand of God conta tudo:
"A primeira táctica era ganhar a simpatia dos media. Convencemos os meios de comunicação de que permitir o aborto era uma causa liberal (…). Nós simplesmente fabricámos resultados de sondagens fictícias (...) - que 60% dos americanos eram favoráveis à liberalização do aborto (...). Poucas pessoas gostam de fazer parte da minoria (...). Enquanto o número de abortos ilegais era aproximadamente de 100 000, nós dizíamos incessantemente aos meios de comunicação que o número era de 1 000 000. A repetição de uma grande mentira convence o público. O número de mulheres que morriam em consequência de abortos ilegais era cerca de 250. O número que dávamos constantemente aos meios de comunicação era 10.000 (…)".
"A segunda táctica era atacar o catolicismo. Nós difamávamos sistematicamente a Igreja Católica e as suas "ideias socialmente retrógradas", e apresentávamos a hierarquia como o vilão que se opunha ao aborto. Esta música foi tocada incessantemente. Divulgávamos aos media mentiras como: "todos sabemos que a oposição ao aborto vem da hierarquia e não da maioria dos católicos", "as sondagens provam que a maioria dos católicos quer uma reforma"... E os media martelavam tudo isto sobre os americanos, persuadindo-os de que quem se opusesse ao aborto livre estava sob a influência da hierarquia católica e que os católicos favoráveis ao aborto eram esclarecidos e progressistas. O facto de que as outras religiões, cristãs e não cristãs, eram (e ainda são) completamente opostas ao aborto foi constantemente silenciado, assim como as opiniões dos ateus pró-vida."
"A terceira táctica era obscurecer e suprimir toda a evidência de que a vida se inicia na concepção. Uma táctica favorita dos abortistas é a ideia de que é impossível saber quando se inicia a vida humana; que isso é uma questão teológica, moral ou filosófica; nada científica. Ora a fetologia tornou inegável a evidência de que a vida se inicia na concepção... (…) A permissividade do aborto é claramente a inegável destruição de uma vida humana (…). Como cientista, eu sei - e não apenas "acredito" - que a vida humana se inicia na concepção".
21 comentários:
Não é preciso ser médica nem cientista para saber que a vida começa na concepção, já outras vezes escrevi isto , gostei do assumir de " culpas " e em especial da manipulação dos media , da deturpação de resultados , por isso nao gosto de estatisticas , são facilmente menipulaveis ao nosso gosto ... Estudando os grupos de pressão e os lObbys e facil ver o qe se faz , isto passa-se em todas as areas , todos os dias , normalmente devemos pensar o contrario do que esta escrito ! os grupos de pressão so tem uma vantagem , a amior informação , pelos contra grupos e pelos contra-lobby !
chega de hipocrisia
Deixo aqui outro ponto de vista.
De acordo com uma estimativa conservadora, o feto começa a ter actividade organizada do córtex cerebral algures entre as 25 semanas e as 32 semanas. (Uma estimativa menos conservadora diria que só às 30 semanas essa actividade tem início.) É a partir desta altura que as ligações sinápticas entre células cerebrais individuais começam a estabelecer-se — até esta altura, essas células eram pequenas ilhas, por assim dizer. Começa a ser possível captar as ondas cerebrais do feto através de electro-encefalogramas. É sensivelmente a partir desta altura que o feto começa a pensar e a ter consciência, algo que tanto um ser humano adulto como um bébé recém-nascido tem (embora em graus diferentes, obviamente). É por isso que penso ser nesta altura que o feto adquire o direito à vida. Tanto o feto antes das 25 semanas como o comatoso são potencialmente seres conscientes. No entanto, são-no em sentidos diferentes. O comatoso é potencialmente um ser consciente num sentido mais forte do que aquele em que o feto é potencialmente um ser consciente. O comatoso é como uma pessoa que sabe francês, embora não esteja a falar francês neste momento, e o feto é como uma pessoa que ainda não aprendeu a falar francês. É também a partir da 20 semana que o feto se torna viável, que pode sobreviver fora da barriga da mãe (ainda que com recurso a cuidados médicos). estrelinha ajuizada
A IVG, sobretudo a questão da sua despenalização (com regras claro, que até podiam ser as já existentes desde que os fundamentalistas se não refugiassem em subterfúgios do tipo objecção de consciência que logo se transforma em guerra a enventuais convenções com privados porque assim será sempre mais fácil evitar os objectores) é tão pessoal e até intima que me custa discuti-la.
Sou a favor da despenalização. Só interrompe a gravidez quem quer. Quem o não quizer não passa a ficar obrigado a isso só porque a lei alterou. Não é justo que sejam as condições económicas de uns e de outros a decidir o nível de segurança (médica e judicial) de quem decide optar por uma solução já de si, muito penosa!
É o que penso. Mas recuso discutir este assunto!
Primeiro que tudo há que definir-se qual a posição que se tem perante a Vida e vamos por partes para não misturarmos tudo. Do resto vamos falando depois.
Científicamente, a concepção inicia-se "Sempre que um espermatozóide e um oócito se unem, cria-se um novo ser que está vivo e assim continuará a menos que alguma condição específica o faça morrer." (E. L. Potter, M. D., and J. M. Craig, M. D Pathology of the Fetus and the lnfant.)
Ou seja, cada um de nós iniciou a sua vida como uma célula chamada zigoto, o que já explica porque é que a "pílula do dia seguinte" é irresponsável porque não é um contraceptivo, mas sim um abortivo químico que actua numa fase precoce do desenvolvimento humano. Para evitá-lo, há contraceptivos fiéis q.b. e bastante informação.
Abortar não é um acto inóquo. Há uma vida humana a desenvolver-se no ventre da mãe, um pequeno ser como cada um de nós já foi. A Vida é um processo e não o resultado duma cegonha que já põe o Ser cá fora de repente.
Considerando que se aceite a ciência, a partir daqui podemos iniciar conversa sobre a morte provocada de um Ser indefeso (lei-se, sem direito de escolha) e também poderemos discutir o ponto de vista da mãe e do pai na plenitude dos seus direitos, que já não são indefesos.
João, respeito. Eu também aguentei até onde pude mas sinto-me no dever de falar nisto.
Estrelinha, o teu ponto de vista começa depois da vida. O que tu defendes (e bem sabes que te respeito, acho que já falámos disto no teu blog) é em que altura deve ser morto. Ora se só dás valor ao Ser a partir da altura que achas que ele começa a formar-se, todo o processo para ti antes é insignificante. Digo-te mais, um feto não pensa nem é consciente. Não sei onde foste buscar isso. Começar a formar orgãos, pois sim, mas até que pense ou tenha consciência vai um looooooooongo passo.
O que eu defendo é o direito dos indefesos que já tem vida e não tem capacidade de se defender. Há vida, quer queiram quer não. Como já te disse antes, sob esse ponto de vista, onde ficam os paraplégicos e outros que querem viver e não se podem expressar? Onde ficam as plantas e os animais? Sim, permite-me a simplória comparação, mas de facto pelo teu raciocínio, tudo o que não pense não se safa.
Digo paraplégicos, não por não poderem falar ou se expressar, mas por não serem "funcionais" na sociedade, que é, creio, o termo que utilizaste algures num post teu.
O cérebro trabalha, não pensa.
Só sente e sentir não é ter consciência.
Consciência é pensar pensamentos, é ter entendimento, é num último caso, usar a razão.
São tudo coisas distintas.
"Um feto é biologicamente humano (humano em sentido genético), mas isso não faz dele o tipo de ser com direito à vida. Somente as pessoas (aqueles que são humanos em sentido moral) têm um tal direito. É errado matar pessoas, e se um ser-humano não for também pessoa, então não tem direito à vida, pelo que é, ou frequentemente pode ser, moralmente correcto destruí-lo."
Depois a autora identifica as características das pessoas "em sentido moral": são a consciência de si, a capacidade de comunicar, ter actos racionais, capacidade para resolver problemas, etc., e o resultado é que bebés recém-nascidos também não são pessoas. Logo, continua a autora, "Matar recém-nascidos não é assassínio"
Cf. Mary-Ann Warren, On the Moral and Legal Status of Abortion, in Today's Moral Problems.
"Uma vez que eu não acredito que bebés humanos sejam pessoas, mas simples pessoas potenciais, e uma vez que eu penso que a destruição de pessoas potenciais é um acto moralmente neutro, a conclusão correcta parece-me ser a de que o infanticídio é em si moralmente aceitável."
Mais, continua o autor: "É razoável conjecturar que estamos a lidar mais com um tabu [o infanticídio] do que com uma proibição racional"
Cf. Michael Tooley, "A Defense of Abortion and Infanticide", In The Problem of Abortion.
Quem aceita um deve aceitar pelas mesmissímas razões o outro. Ou assim já faz mais confusão?
Bom , só posso deduzir que esse senhor , é completamente anormal , nada mais! Concordo com o JPM , que por um lado é tramado discutir isso , eu não concordo com a despenalização de forma leviana , assim como o uso abusivco da pilula do dia seguinte , concordo que em certos casos , como doença grave se possa efectuar e que exista a melhor assistencia possivel , o resto e hipocrisia pois se nao fizerem num sitio fazem em outro!
Não concordo com as questóes economicas como fundamento e acho que o estado em vez de gastar tanto dinheiro com reverendos e outros eventos deste tipo defia providenciar meios de ajudar a criar as crianças desfavorecidas , promover a adopçao para casais inferteis , é caso para dizer dá Deus nozes a quem não tem dentes ...
Pois é VN, mas é a lógica a funcionar. São os pró-aborto quem o dizem, eles mesmo chegam onde eu queria chegar. Quem condene a ausência de humanidade em fetos terá sequencialmente que condenar neste ponto de vista do bébé também, doutra forma não faz sentido essa defesa deles, porque um bébé não pensa.
Como sabe, a pílula do dia seguinte, além de fazer um mal terrível, é usada ao desbarato por falta de responsabilidade (aqui dava-me jeito que o Miguel Sousa nos trouxesse os dados recentes da sua escola quanto aos comportamentos de risco dos adolescentes - acreditem que iam ficar surpreendidos).
Diz-me um amigo meu que é formado em farmácia, que são compradas sem receita médica. À livre vontade do cliente. Preservativos? Pílulas? O que é isso...?
Eu concordo consigo, dou-lhe outro exemplo.
Cá nos Açores, no caso de despenalização, as mulheres só poderão fazer abortos legais em locais preparados para tal. Ou seja, em hospitais e clinicas preparadas. Se para se ter bébé cá nas ilhas há necessidade de haver evacuação aérea das ilhas mais pequenas para as ilhas maiores, que são as que tem hospitais com condições, então no caso de quererem abortar, das duas uma: ou terão subsídios de aborto porque as mais desfavorecidas não tem dinheiro para viagens, ou farão na mesma onde já fazem.
Isso para mim é uma hipocrisia enorme.
Estamos nos Açores onde todos se conhecem e eu sei o povo que tenho cá. Duvido que alguém se vá expôr. Mas estarei atenta a todos os dados possíveis. Acredite VN, esta conversa é algo que me mexe bastante com o sistema nervoso.
Bj*
No caso de haver subsídio... Subsídio para abortar??? O Estado vai pagar para... isso? Bolas onde é que este mundo vai parar.
Depois de ler os comentários, não pretendo convencer ninguém, mas quero esclarecer melhor a minha posição.
0 feto começa a ter actividade organizada do córtex cerebral algures entre as 25 semanas e as 32 semanas, começa a ser possível captar as ondas cerebrais do feto através de electro-encefalogramas, é também por volta da 20 semana que o feto ganha viabilidade, tendo possibilidades de viver fora da barriga da mãe (ainda que com recurso a cuidados médicos). A partir deste momento ganha a qualidade de ser humano real. Até este momento o feto não é uma vida humana propriamente dita, mas sim em potencial. O argumento que atribui ao feto direitos de um ser humano adulto é equivocado, já que um ser em potencial não é um ser real, e jamais deveria possuir os mesmos direitos. Assim, num dilema ético a respeito da prática ou não do aborto, devem prevalecer os interesses da mulher e não do feto, por serem estes mais rudimentares e menos complexos. Da mesma forma que o feto é ser humano em potencial, o espermatozóide também é, resguardando-se as devidas proporções. Para mim, representa uma grande incoerência condenar-se o aborto, mas permitir práticas como o uso de anticoncepcionais, comportamento de abstinência sexual, e até mesmo o celibato.
Deve ser respeitado o direito subjectivo de liberdade de escolha da mulher, cabendo apenas à ela a decisão de levar ou não adiante uma gravidez. Na maioria dos ordenamentos jurídicos, considera-se o direito do feto, em detrimento do princípio de autonomia da mulher, com estrutura ontológica bem mais completa. Ninguém tem mais direito à vida do que os que a possuem em plenitude.
limitar a discussão do aborto a questão do zigoto é tapar o sol com a peneira..eu ainda não sei qual será a minha posição no referendo...mas no outro votei contra a lei que liberalizava o aborto e hoje estou decepcionado com as promessas que mais uma vez ficaram por cumprir...dizer que há sempre solução para mães desesperadas é uma hipocrisia tremenda..sobretudo quando esse dito vem da boca de politicos que estiveram lá e nada fizeram...confesso que este assunto me dá vomitos..até porque tenho na minha posse dados reais acerca de uma investigação feita por mim numa escola que devia fazer tremer as pessoas que vêm o assunto só por uma "pequena angular"...
Estrelinha, nem se trata de "convencer". Isso para mim nem se coloca, era chamar os outros de irresponsáveis e creio que quem nos leia não seja influenciável ao ponto de não querer saber explicitamente por si. Trata-se de esclarecer e nisso todos temos responsabilidades. É assunto de todos e para todos, quem não quer cala-se como eu estive calada e aceito-o com todo o respeito, mas quanto a mim mudei de opinião.
Fulanizando, eu tenho formação para falar nisto e devo usar o pouco que sei para esclarecer as tais posições éticas que me falas abaixo, inclusivé sobre a perspectiva ontológica do ser. Se queres entrar por aí também pode ser.
Este assunto merece fundamentação, o que não me estás a dar. Assentas a tua defesa sob uma opinião pessoal. Não devia ser assim, ainda mais pela responsabilidade que penso que deves ter dentro do teu partido ao esclarecer alguém que te pergunte.
A vida, a concepção, é admitida só pelo ZIGOTO. Note-se que o espermatozóide não é, ou faz nada sozinho. Um espermatozóide não é um ser humano, é uma célula de um ser humano (e "partes" do "todo" não subsistem).
Os defensores do direito à vida não pretendem que as bactérias tenham direito à vida, não dizem que cortar o cabelo é um genocídio nem lutam contra amputações. Defendem, exclusivamente, que todos os seres humanos têm direito à vida. Portanto, a discórdia entre quem defende o direito à vida e quem o combate, resulta do facto dos primeiros considerarem que todos os seres humanos têm direito à vida, enquanto que para os segundos só alguns seres humanos (os que forem também pessoas) têm direito à vida. Logo, é esta uma questão que só envolve direitos de seres humanos. E no teu ponto de vista só o são quando subsistem de alguma forma, o que também não faz deles ainda pessoas. Em que ficamos?
Remetendo para a questão ontológica, não estamos a falar de estritamente de pessoas, porque pessoa é só aquela que começa a ter direitos, estamos a falar do SER humano, mas já lá vamos. Não há qualquer argumento equivocado, a defesa recai sempre e apenas sobre a vida humana, não sobre os direitos da pessoa. Aí já entraríamos no campo jurídico.
Nas comissões bioéticas, como sabes, se acompanhas, a discussão pende sobre a vida que vai ser safrificada e não sobre os direitos da mãe, o que faz todo o sentido. É esta concepção que necessita de ajuda, não os adultos conscientes e dotados de protecção. Esses, como deves reconhecer pela tua argumentação, são "viáveis" sozinhos (ou deveriam ser).
O feto não pode ser uma coisa porque a sua natureza material e biológica o coloca entre os seres pertencentes à espécie humana. Ora, se não é uma coisa, no plano jurídico, o feto só pode ser um sujeito. (Conselho Nacional de Bioética de Itália e C. Casini).
Mais:
A declaração universal dos Direitos do Homem (10.12.48) abre com a afirmação de que "o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo consiste no reconhecimento da dignidade de todos os seres pertencentes à família humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis". Trata-se do princípio da igualdade, que se fundamenta no reconhecimento da dignidade do ser humano, isto é, do seu superior valor, que o distingue da restante natureza, porque a transcende.
Por ser tão sublime, e por não admitir gradualidade, a dignidade é sempre igual para todos. Este princípio acolhido por todas as constituições modernas, exprime a verdade de que o homem é sempre um fim e nunca um meio, sempre sujeito e nunca objecto, sempre pessoa e nunca coisa.
A dignidade humana significa que o sujeito tem de ser reconhecido por aquilo que é, significa que o ser humano é sempre fim e merece por isso protecção por si mesmo, porque ele, enquanto tal, tem o originário direito de viver.
"A legitimidade de uma discriminação entre os seres humanos na base da possessão de certas capacidades ou funções é execrável. Ora a simples possessão da natureza humana implica para todo o indivíduo humano o facto de ser pessoa. A pessoa é definida pela natureza ontológica, pelo que um indivíduo concreto pode ser de natureza racional mesmo quando não manifesta todas as características da racionalidade." (Conselho Nacional de Bioética de Itália).
Termino a dissertação que já vai longuíssima, dizendo que mais uma vez não entendi porque achas "incoerente condenar-se o aborto, mas permitir práticas como o uso de anticoncepcionais, comportamento de abstinência sexual, e até mesmo o celibato."
Quanto a isto, sou a favor dos anticonceptivos - só, porque são antes (não da pílula do dia seguinte, que é depois). Parece-me que ao ligares em cima o celibato ou a abstinência, tomas os defensores da vida por seres da inquisição e obscuros da idade média. Um dia que nos conheçamos na nossa terrinha espero que desmistifiques essa ideia e percebas que somos todos iguais. Acredito mais do que tudo na prevenção e no uso da razão, com todos os seus limites, das pessoas. Se isto acontecesse não teríamos que andar aqui a debater um assunto tão sério como é a VIDA (como se tivessemos direitos a isso). E isso não implica celibatos ou abstinências, implica responsabilidade. Apenas. Se ser-se conservador é isto, serei-o com todo o prazer.
Miguel não se está a limitar, está-se a começar do princípio. As coisas não são discutidas em 3 comentários de 5 linhas sob o risco de não fazerem sentido.
Não é o Estado quem deve ter todas as culpas, a parte que lhe toca falha redondamente, claro está, mas imagine-se que a maioria está como o Miguel, ainda sem saber o que vai fazer, é assustador! As pessoas tem que ter mais informação sobre o processo completo, não é só dizer que há soluções, não! Não há! A solução passa pela informação. Isto pede que nos debrucemos mais sobre isto. É importante demais para que se decida na hora.
Desculpem o texto enorme acima. Duvido que alguêm leia já. :(
Parece que a ciência pode oferecer dados valiosos acerca do desenvolvimento de um ser humano, desde a concepção até o nascimento e, mesmo, depois; mas toda a informação científica não pode precisar o tempo em que o feto em desenvolvimento deve ser considerado humano. A questão é fundamentalmente filosófica e não científica. Existem, certamente, muitas opiniões contraditórias na filosofia, e podemos duvidar se a opinião de um filósofo é melhor do que a de qualquer outro. A religiosidade e os conceitos de ética e moral daí advindos também impedem entendimentos com espíritos mais cépticos. Na minha modéstia opinião, esta é mais uma questão do foro íntimo, desde que consciente. Daí o meu interesse na discussão.
A ciência fornece esta informação - a de que há vida, vida humana e não coisas ou animais. Esse não é um problema que se nos coloque. Está provado que assim é pela ciência e nela cabe a bioética que é um ramo em comum da medicina com a ética, que por sua vez, pertence à filosofia.
A Filosofia não é apenas um conjunto de questões de gente doida assentes em nada, trabalha com outras ciências para desconstruir dogmas, é a única ciência crítica que procura responder além ciência. Sim, qualquer opinião é válida, pelo menos para mim, desde que fundamentem a posição e não se limitem a bater com a mão no peito. Isso fica para as conversas de café.
Atente-se e isto é de grande importância, que qualquer cientista/crítico que trabalhe neste assunto, não pode nem deve considerar nesta fase alguma influência religiosa. As convicções pessoais podem coincidir mais tarde sim, mas é secundário e nunca deverá constituir ponto de partida já que estamos em campos bem distintos.
A filosofia questiona a legitimidade em tirar-se essa vida mas já a admitindo como vida humana. Por alguma razão vos ficou que um feto não é nada. Não é bem assim.
Avançando mais um pouco. O mais pertinente na discussão, e já se viu pelos exemplos acima, que se o feto tem direitos humanos porque pertence à espécie humana, é o "quando" que interessa a quem defenda o aborto.
A vossa posição é que o processo de abortar é justificável até à formação dos orgãos, nomeadamente o do cérebro. Que, note-se, tem actividade mas não consciência. Logo, se há não há consciência ainda, também não a haverá em bébés (leia-se o processo cognitivo formado e em uso). Por aí torna-se injustificável a vossa posição. Daí o levantamento da legitimidade do infantícidio.
A ética é o estudo do agir humano, logo na bioética entenderás que faz todo o sentido aplicá-la sobre a vida (bios). O que me faz crer que se tens a ideia de impedimento ao entendimento, terás que desconstruir esse dogma. Vê ao contrário, cépticos estamos a ser nós, que questionamos tudo.
É uma questão muito sensível, mas temos que ser pertinentes e descer até ao fundo para entendermos as bolhas que vem à superfície. Recuso-me a comentar superficialmente sem entender porquê, já tem vindo a acontecer em muitos blogs e quem diz que é contra o aborto é logo ligado aos dogmas da igreja, ao conservadorismo, à moral. Não estrelinha, esse é outro dogma. Há muitas pessoas que se ligam a uma coisa sem se ligarem a outras e algumas sabem porque o fazem. Gosto de me esclarecer em longos textos, porque não quero de forma alguma estar dentro da saca de batatas comum. Há em todo o lado pessoas que só aceitam sem saber porquê, que basta contrapormos alguma dificuldade e perdem posição. È como te digo, estamos como estamos em Portugal por isso mesmo. Porque não há críticos, só há comentadores. Isso é o mais fácil, comentar.
Então sendo esta questão do foro íntimo - desde que consciênte - o que te leva a crer que muitas pessoas não estejam conscientes do processo? Aqui estou eu bem céptica.
Seguindo o meu raciocínio, não posso conceber que hajam abortos, e muito menos legalizados. Posso acreditar que a despenalização seria boa no caso de haver bastante informação e com ela responsabilidade (em casos mais bicudos), mas não há. Nem o estado ajuda muito e se ajuda ninguém o procura.
Temos que parar com a hipocrisia. Quem inicia uma vida sexual é que deve ter cuidados e se informar, não é o estado que deve vir bater à porta, esse é o resultado do estado prometer tudo, e as pessoas por facilitismo, deixarem-se levar na cantiga. Não mandam já em si?
A velha frase do "ninguém o faz de ânimo leve" a mim também não me diz nada. Primeiro porque é uma absolutização, não è relativa a nada, é simplesmente absoluta, é o mesmo que dizer todos fazem. Não tem ponta por onde se lhe pegue, é mais uma frase feita para ter impacto emotivo. Há muita gente que não dá valor a uma vida e fá-lo de ânimo leve. Fá-lo porque não tem condições. Ora eu por mais que me doa saber que há quem sofra, tenho que ser lúcida e entender que se quem não tem condições, deveria ter pensado nisso antes (e nem é algo que se esqueça). Ainda mais quando há contraceptivos disponíveis em todo o santo lado! De graça. Não era preferível evitar-se isto? Pela vergonha que ainda se tem de se ir a uma consulta paga-se o resto da vida. Isso é democracia ou é medo da censura?
Só posso concordar com o aborto em caso de deficiência detectada, e mesmo assim, há bastantes casos em que a deficiência da criança só é detectada em vida. Matamo-la também?
Bem, é o mesmo que dizer-se que o coitado do ladrão não teve culpa quando matou o guarda. Ía "só" roubar para comer, o que nos comove, mas teve que disparar ao polícia porque este não o deixou roubar. E aqui, ficamos onde? Vamos perdoar todos os que matam e como vamos saber se a intenção era boa? Interessa-nos o facto - o matar - e não as intenções, essas não são medidas à régua nem vistas ao olho. Além de que, o polícia tb era gente.
Vai daí que ache que a despenalização não seja uma solução.
se pensa que a minha indecisão é por questão de falta de informação engana-se redondamente...eh eheh
Não, não penso nada pelos outros Miguel. Nem lhe disse isso em lado nenhum. Se quiser dizer qual a razão da sua indecisão, diga, se não quiser, pois olhe... eh eh eh para si também. O assunto aqui é sério.
conhece-me o suficiente para saber que mesmo quando brinco falo a sério....lá vou levar porrada por c ausa das palavras.....
Já lhe respondi em cima a isso.
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