quinta-feira, 31 de agosto de 2006

Para todas as bravas

A verdade é para se dizer: este pasto tem sido deixado ao abandono! Por todas as bravas, que se dizem com vidas muito ocupadas. Eu inclusivé! O nascimento do meu bezerrinho trocou-me a vida, é certo, mas já sinto falta de um pasto animado para trocar uns muuusss e dar umas marradas. Deixo portanto aqui um pedido às outras bravas: APAREÇAM!

E, entretanto, deixo-vos este poema de Vinicus de Moraes. Porque a distância e ausência não apagam as amizades dignas de tal nome.


«Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade
que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, pois que
permite que o objecto dela se divida em outros afectos, enquanto
o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.
E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem
morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem
todos os meus amigos!
Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e
o quanto minha vida depende de suas existências .
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem.
Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida.
Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes
dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar.
Muitos deles estão lendo esta crónica e não sabem que estão
incluídos na sagrada relação de meus amigos.
Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não
declare e não os procure.
E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de
como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu
equilíbrio vital, porque eles fazem parte
do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram
alicerces do meu encanto pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.
Se todos eles morrerem, eu desabo!
Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles.
E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese,
dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu
egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.
Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me
alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando
daquele prazer...
Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda
furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando
comigo, andando comigo, falando comigo,
vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os
que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus
amigos!
A gente não faz amigos, reconhece-os.»

Vinícius de Moraes