sexta-feira, 18 de março de 2005

Os Perfumes

A nossa Brava e o seu Le Baiser de Klimt inspiraram-me os sentidos. Deixo-vos um excerto de "O Perfume" (da parte dos bons cheirinhos... eh eh eh) e fica aqui o convite para nestas más noites irem tirando parte das essências, dos incensos, dos sais, ... enquanto não chega a Primavera para podermos inspirar os aromas naturais - se bem que a pele é um aroma natural disponível toujours. Pronto, já me calei. Silêncio, e narizes ao alto!

"Este perfume tinha frescura; não era, porém, a frescura das limas ou das laranjas, a frescura da mirra ou da folha de canela, ou da hortelã ou das bétulas, [...] nem a de uma chuva de Maio, de um vento gelado ou da água de uma nascente... e continha simultaneamente calor; mas não um calor semelhante ao da bergamota, do cipreste ou do musgo, [...] nem ao de um bosqueado de rosas ou de ísis... Este perfume era uma mistura de ambos, do que passa e do que pesa; não uma mistura, mas uma unidade, e, além disso, humilde e fraco, e, no entanto, robusto e resistente como um pedaço de seda fina e brilhante... e, todavia, não como a seda, mas antes como o leite com mel onde se molha um biscoito, o que nem com a melhor das boas vontades se conjugava:leite e seda! Incompreensível este perfume, indescrítivel, impossível de classificar. [...] E, no entanto, ali estava com a mais absoluta das naturalidades. Grenouille seguiu-o com o coração angustiado, dado suspeitar que não era ele que ia atrás do perfume, mas o perfume que o tornara seu prisioneiro e o atraía nesse momento irresistivelmente até ele."

Patrick Suskind, O Perfume

8 comentários:

RD disse...

Liiiindo! Li-o há muitos anos e comprei-o em Dezembro passado para reler. É daqueles livros que me ficou tb! :)

carlos disse...

....Apoiado. O Suskind escreveu uma autêntica sinfonia ao menos literário dos sentidos, o olfacto.

dinorah disse...

Olá! Também li este livro faz já muito tempo e lembro-me perfeitamente que depois disso parecia que conseguia cheirar tudo muito melhor e diferenciar determinadas essências em, por exemplo, perfumes!

Beijinho

Viuva Negra disse...

Muito bom , não só é um dos meus livros favoritos , como os perfumes são algo de fantastico , não me aprece de todo que o olfacto seja pouco literario , antes pelo contrario , existe necessidade de exaltar os sentidos , nada melhor que cheiros ... nada melhor que fechar os olhos e sentir , saber que algum chegou e não precisar de ver ... aiaiai perfumes e cheiros ...

Viuva Negra disse...

Suskind , foi um mestre ... pena que se tenha ficado pelo perfume , os outros livros deixam muito a desejar, no entanto as sensações que provoca são fantasticas , desde os chieros nauseabundos , até sentir e pensar em alguem só pelo cheiro. Acho que é um assunto não muito aproveitado , mas acho que é o melhor de todos , todos temos um cheiro que é como uma impressão digital , mesmo com perfumes o nosso cheiro predomina e altera , não existem 2 pessoas com o mesmo cheiro ... adoro saber que algum chegou só por reconhecer o cheiro , sem precisar de olhar , gosto de identificar por pequenas particularidades , quem nao gosta de fechar os olhos e seguir os sentidos ...

A ilha dentro de mim disse...

Ai que saudades do "Perfume"! Só de ler este bocadinho fiquei com vontade de reler o livro todo. Ninguém foi capaz de explicar como Suskind a importância do cheiros na nossa vida. Depois dele, o meu olfacto, que já era apurado, nunca mais foi o mesmo. Honra lhe seja feita por isso!

Anónimo disse...

que cheirinho a primavera... e já choveu no porto...

João Pacheco de Melo disse...

Anda tudo muito "cheiroso". Ainda bem!