segunda-feira, 14 de março de 2005

Aperfeiçoamento

A estirpe herda-se e a virtude conquista-se, e a virtude vale por si só o que a estirpe não vale.
Cervantes

Ainda as há, mas a maior parte das Quixotices de estirpe já lá vão diluídas nos tempos aúreos das conveniências, porém a virtude será sempre intemporal.
A virtude é, como dizia Gide, o que de melhor os indivíduos podem obter de si próprios. Deverá ser praticada? Pois sim, não faz algum sentido admirá-la apenas. Devemos entender isto como?
Pelas palavras de Pascoaes:
O aperfeiçoamento da Humanidade depende do aperfeiçoamento de cada um dos indivíduos que a formam. Enquanto as partes não forem boas, o todo não pode ser bom. Os homens, na sua maioria, são ainda maus e é, por isso, que a sociedade enferma de tantos males. Não foi a sociedade que fez os homens; foram os homens que fizeram a sociedade. Quando os homens se tornarem bons, a sociedade tornar-se-á boa, sejam quais forem as bases políticas e económicas em que ela assente. Dizia um bispo francês que preferia um bom muçulmano a um mau cristão. Assim deve ser. As instituições aparecem com as virtudes ou com os defeitos dos homens que as representam.
Só me quero fazer entender sobre a parte importante que creio andar a faltar - ao desenvolvimento pessoal de cada um. Pode parecer superficialmente banal, mas é a base para tudo. Não vou desenvolver muito porque quero mesmo é criticar o pseudo-intelectualismo reinante. A mania de se mostrar que se sabe sem se saber. O entendimento sem conhecimento adoptados nos rodapés. As incoerências dos discursos. O culto à imagem e aos valores descartáveis. O utilitarismo dos interesses e o esgravatanço pelo poder.
Há quem saiba e há quem não saiba, há quem queira saber e há quem não lhe interesse saber coisíssima nenhuma, há quem procure e há quem não procure.
Devemos tolerar (está muito na moda dizer-se isto). Partilhamos o estatuto de igualdade e temos todos os mesmos direitos, mas somos todos diferentes e cada um faz o que quer à vida. A nossa acção não se reflecte nos outros, logo os outros não interessam. Somos governados por isso a culpa é sempre do sistema, nunca nossa. ETC, ETC, ETC, ETC. E depois de repente apanhamos todos com tudo e não percebemos porquê.
O que pensam vós caros leitores?

25 comentários:

«« disse...

primeiro lhe dar os parabéns pelas escolhas que fundamentam a sua escrita (excelente como sempre); segundo dizer-lhe que concluo estar fora de moda, pois não tolero o pseudo-intelectual; terceiro que nunca entendi porque ser pseudo-intelectual está na moda; quarto que parece-me ser de uma falta de ambição interior, querer se tornar nesse tipo de gente. Por essas e por outras prefiro ser um burrinho pensador....

RD disse...

Adoro Gide, Teixeira de Pascoaes gosto em algumas coisas, mas encontrei este rasgo dele e aproveitei-o oportunamente. :)

«« disse...

a CONCLUSÃO QUE CHEGO NESTE BLOGUE É QUE O GADO FEMININO DO FAIAL É DO MELHOR QUE HÁ...BRAVO QUE NEM TOURO....EH EH EH DESCULPEM O MACHISMO

Anónimo disse...

concordo com aquilo que dizes Rosa. Acho que a Virtude anda sempre de mão dada com a consciência... o que acontece nos tempos que correm é que virtuosos há muitos e inconscientes também.

como dizes, comecemos a revolução a partir de nós próprios. talvez um dia, boca a boca, coração a coração, o mundo inteiro possa ser contagiado de felicidade.

parabens pelo novo blog...já dei uma espreitadela

bjos

RD disse...

Caro Miguel, obrigado pelo seu elogio.
A meu ver, não interessa ser-se o melhor, é preciso é ser-se bom. Somos bravas normais mas atentas.*

RD disse...

Obrigado Vítor, andas sempre atento amigo :)

Tem que se começar por nós, eu penso assim também. Bj*

Caiê disse...

Dizes, Miga Brava, que o desenvolvimento pessoal caíu em desuso; pois eu penso que hoje há uma enorme procura da projecção social, em detrimento disso q bem apontas. Procura-se conquistar um lugar ao sol, se possível ofuscando o vizinho, e roubando uns cms à velhita q apanhava banhocas de raios solares ali ao lado.
Quanto ao velho "ignoce te ipse" e aos sistemas de valores... cada vez o cano está mais cheio. Os esgotos abundam de valores deitados fora, e a bem dizer, poucos procuram conhecer-se.
Atenção: esta vaquita não é dona da verdade... eu cá só estudo a vida. MMUUUHHH !!!

RD disse...

Oh miga, donos da verdade absoluta não há, mas cada um deveria procurar a sua. Concordo contigo.

«« disse...

se me permite Caiê, vaquinha que não se sente dona da verdade é vaquinha inteligente tipo touro(esta parte do touro +é brincadeira)

Viuva Negra disse...

No melhor pano cai a nodoa , por isso cuidado com a estirpe ...

Viuva Negra disse...

e de facto voltamos cada vez mais ao tempo , das virtudes publicas vicios privados ... que deixa possessa

RD disse...

Infelizmente é o que se passa. Virtudes públicas, vícios privados. A maioria das pessoas nem sabem viver consigo mesmas, mas sabem ir mostrar os dentes em público, etc. Se se preocupassem em saber realmente e não em mostrar saber, estávamos todos melhores.

carlos disse...

..."each man is an island, looking for the maine".

não sei porque me lembrei do verso inicial deste poeta inglês do século XVII, que tão bem descreve a condição humana como sendo naturalmente social, mas foi o que me ocorreu dizer a propósito da posta do Gado Bravo.

RD disse...

"No man is an island, intire of it selfe; every man is a peace of the Continent, a part of the maine; if a Clod bee washed away by the Sea, Europe is the lesse, as well as if a Promontorie were, as well as if a Mannor of they friends or of thine owne were; any man's death diminishes me, because I am envolved in Mankinde; And therefore never send to know for whom the bell tolls; it tolls for thee."
John Donne, poeta do século XVI
;)

RD disse...

Posso concordar, mas nunca me posso alhear dos outros... nem quero*

carlos disse...

.... touché, Gado Bravo, a menina é um autêntico prontuário filosófico-literário ... tenho de me pôr a pau consigo.
Isto de citar poetas antigos ingleses de memória tem os seus inconveniente, mas John Donne (1572-1631)não pode ser, em rigor, considerado um autor do século XVI.
Sabia que ele era aparentado, pelo lado materno, com Sir Thomas More, e que integrou a expedição de Sir Walter Raleigh contra as ilhas do Faial e das Flores em 1597?
.... vá lá, não me puxe pela língua :)

RD disse...

Não sabia não :)

Sei que Thomas More era amiguinho de Erasmo e que partilhavam as suas ironias e sátiras nos seus escritos humanísticos (Como bem sabe, Utopia e o Elogio da Loucura, respectivamente - para quem não sabe - leia que vale a pena!), mas não do parentesco de More com Donne.
*****
Sir Walter Raleigh, poeta, navegador e amante preferido da Rainha Elizabeth-1558(conta a lenda que o dito senhor, como cavalheiro que era, teria atirado o seu casaco à lama para a rainha passar, o que não passa incólume a senhora que se digne). Sei que foi o promotor do tabaco e introdutor do cachimbo na terra dos meus tetravós - England, e um pouco mais tarde na dos meus pentavós - Ireland.

A última parte claro que não sabia, hehe. As coisas que se descobrem na internet ;)
http://directory.google.pt/alpha/Top/Society/History/By_Topic/Exploration/Explorers/Raleigh,_Walter/

Não encontrei nada sobre ele ter vindo aos Açores :(

carlos disse...

Prima Brava,

"a terra dos meus tetravós, England ... a terra dos meus pentavós, Ireland" ....
exactamente como eu, I'll be damned se não somos aparentados;)

RD disse...

Já tenho a Genealogia nas hands dear cousin. É muito possível sabe. E por acaso também não tem uma avó francesa pois não? hehe.
É que eu sou um mix bombasticamente bravíssimo.
Apenas a minha querida mãezinha de S.Jorge foi a única a me dar genes das terras de Gengis Khan. ;)

carlos disse...

...avó não, mas o meu trisavô nasceu em Paris, veja lá a coincidência.
Confesso-me desorientado, estimada prima, com essa relação entre a senhora sua Mãe, a ilha de S. Jorge e os genes das terras do Tamerlão.
Estou ciente da sua braveza, mas também não é preciso exagerar ;)

RD disse...

:) É uma confusão, imagine como não é complicado saber gerir estes genes todos.
Digo isso da minha mãe porque é a única de quem não tenho ainda a genealogia feita. E como andaram a falar nisso dos mongóis ultimamente, brinco com ela para picar. Sabe-se lá.
O primo já me disse que não é dado a genealogias, mas tem a sua feita ou não? :) Já tinha calculado pelo seu nome que devia haver uma veia english, mas é mesmo coincidência que também sejam originários da Irlanda. A minha vó franciú era Guiod de apelido. Vieram de Sables.

Laura Antunes disse...

Tolerancia, não sabia que estava na moda, é um dos valores mais importantes que tento transmitir ao meu filho de 11 anos. Sem pseudo nadas apenas considero que isso é a base para tudo. Abraço Laura

Laura Antunes disse...

Tolerancia, não sabia que estava na moda, é um dos valores mais importantes que tento transmitir ao meu filho de 11 anos. Sem pseudo nadas apenas considero que isso é a base para tudo. Abraço Laura

RD disse...

E é a base para tudo, aliada ao respeito pelo ser humano Laura. Estava a ser irónica em cima. Dizia na moda, porque muitos a atiram aos sete ventos e são tudo menos tolerantes. A tolerância é tão delicada que corre sempre o risco de perder lugar. Se seguir o link do "tolerar" no texto verá que sou uma defensora acérrima nesse meu outro blog. :)
Volte sempre. Outro abraço!
Rosa

carlos disse...

Prima Brava,

Correndo o riso da blogosfera achar que estamos a dar uma de snobs com este chat genealógico, devo dizer-lhe que o meu trisavô, embora nascido em Paris, era filho de pai inglês e mãe escocesa. Veio de Paris para São Miguel, ainda miúdo, pela mão do Dr. José Pereira Botelho, um lagoense que lá tinha ido tirar o curso de Medecina na década de 1840. Não ligo a genealogias, mas não me importava nada de ir às margens do Sena com vagar suficiente para descobrir o registo de nascimento do trisavô. A partir daí talvez me começasse a interessar. Viajar é viver ;)