quarta-feira, 9 de fevereiro de 2005

Individualismo

Artigo de opinião de Eduardo Prado Coelho, O Terceiro Pai, no Público, a ler.

Gilles Lipovetsky, n'O Crepúsculo do Dever, já alerta para este neo-individualismo contemporâneo, diz-nos que este não é necessariamente mau (ainda bem!), é apenas uma consequência da época, da concorrência, da globalização. No entanto, este neo-individualismo de Lipovetsky, pretende-se responsável - não tem rigorosamente nada a ver com o individualismo que Eduardo Prado Coelho nos fala.
Ser individualista pode até ser bom, além de se exigir mais de nós próprios, cai-se num perfeccionismo, quase numa auto-concorrência (boa para quem gosta de se superar, má para quem não gosta de se cansar...), mas sempre tendo uma sócio-consciência, e esta é que não convém descurar.
O individualista é aquele que não gosta de depender dos outros, não faz nada a pares, não anda em rebanho, nem que diz que sim quando acha que deve dizer não. E isto bem feito não fomenta o egoísmo, são coisas bem diferentes. O egoísmo dá-se por interesses sempre pessoais, o individualismo pode até ser para proteger alguém, na medida em que se o indivíduo tem o seu ritmo próprio, prefere não atrasar ou pressionar outro, então fá-lo sozinho e até talvez melhor.
O individualismo de que Eduardo Prado Coelho nos fala, é um individualismo plástico, de imagem - acaba por não ser nada, é perene, efémero. É um pseudo-individualismo porque é fruto de acasos, de peripécias, de manipulações.
Não se pode Ser algo tão frágil como a ideia criada pela imagem do que os outros pensam de nós, e é talvez por isso que esta sociedade, pelas palavras de EPC, seja uma sociedade depressiva, porque basta "outra publicidade" para que essa imagem seja mudada. Shakespeare diz que a água corre tranquila quando o rio é fundo, e com razão. Se as pessoas entendessem que se devem construir a si mesmas, criarem alicerces à sua estrutura em vez de serem meros reflexos, íamos todos muito melhor neste barco.

3 comentários:

Vítor Leal Barros disse...

concordo contigo quando dizes que o individualismo nada tem que ver com o egoísmo... de certo que a nova revolução terá de começar no interior de cada um e, boca a boca, coração a coração, tal e qual um dominó percorrerá o mundo...mas isso leva muito tempo...portanto é melhor começar já!
obrigado rosa pela tua lucidez

beijo Vítor

carlos disse...

A citação do velho William fez-me lembrar uma outra frase do Brecht que, penso eu, até vem para o caso:

"Do rio rápido que tudo arrasta se diz que é violento, mas ninguém acha violentas as margens que o comprimem".

RD disse...

Também é muito bonita essa citação :)