quarta-feira, 4 de maio de 2005

«A Senhora dos Açores»

A escritora italiana Romana Petri acabou de lançar um novo livro em Portugal. “Os Pais dos Outros” é um livro de contos dramático, sobre a violência entre pais e filhos. Vai daí que toda a imprensa nacional aproveitou para falar do lançamento. Só na última semana, multiplicaram-se as entrevistas à autora, durante a sua passagem por Portugal. Em quase todas elas, foi notório desconhecimento que os jornalistas tinham da obra da autora e do seu fascínio pelos Açores...

A verdade é que Romana Petri ficou obcecada pelos Açores quando leu “A Mulher de Porto Pim” – esse grande pequeno livro de António Tabucchi – e não descansou enquanto não veio conhecer as ilhas. De uma longa temporada passada na ilha do Pico, nasceu um livro, a que chamou “A Senhora dos Açores” e que a crítica italiana distinguiu com o Prémio Grinzane Cavour.

«No dia anterior não tinha reparado, talvez devido ao mau tempo, mas agora, que fazia sol, vi uma paisagem de rara beleza, parecia uma terra do fogo que por brincadeira tinham posto a flutuar no oceano.» Expressões como esta multiplicam-se na obra da autora, que entre nós está publicada pela editora Cavalo de Ferro, que fez o favor de a revelar a Portugal. A tradução do livro para português não é perfeita (chama angélica à espirituosa angelica e chama-rita à nossa tradicional chamarrita), mas isso é de somenos importância perante a descrição que a obra faz das vivências profundas do Pico, onde as pessoas «vivem no tempo de uma paz que nunca existiu». É uma viagem a um outro mundo, que quase nos esquecemos que ainda existe.

Recomendo «A Senhora dos Açores» especialmente a quem não tem medo de fantasmas, nem tão pouco da alma humana. Neste livro, a solidão tem o peso que a lava lhe dá.

9 comentários:

Viuva Negra disse...

Engraçado ainda hoje estive na Bulhosa e peguei no Livro , sugestionada pelo nome e pelos açores , mas ficou lá na mesma ... comprei outro, mais tecnico " O Mundo das Marcas " e " The Golden Age of Advertising - The 50s" simplesmente fabulosos , para quem gosto do genero ou trabalha na area esta claro ...

Anónimo disse...

Olá amiga,
Desconhecia por completo o gostinho da senhora pelas nossas terras. Compreende-se que ela tenha ficado apanhada pelo Tabucchi. «A Mulher de Porto Pim» é de leitura obrigatória.
Vou anotar para o verão, agora estou que nem posso.
Lamento desde ja a minha futura ausência este mês, mas estou feita num oito para me desenrascar. Inclusivé nas artes Li. ;)
Um beijo.

Caiê disse...

Ah ah ah! Não está mal, visto a angelica ser mesmo uma bebida que leva ao céu! LOL

Agora fora de brincadeiras... Há muitas versões para a etimologia da Chamarrita e uma é mesmo a de haver uma linda moça Rita com quem todos queriam dançar, pelo que se dizia frequentemente no terreiro "Chama a Rita!"... Daí o nome da dança dos entrançados e da roda, e do troca de par... blablabla... Na volta, nem é verdade, mas que é giro, é! :) :) Sobretudo, por terem feito esse erro na tradução que apontas. Não conheço o livro, mas se a sra se apaixonou via Tabucchi merece uma espreitadela...

A ilha dentro de mim disse...

Merece sim senhora! Parece até que é amiga do homem que deu fama à baía que nos deixa mais perto do céu sem ser preciso beber a angelica.

Achei giro isso de chamar a Rita. Não conhecia essa versão, mas sempre vi escrito chamarrita nas letras da música tradicional:)

Quanto à nossa amiga Viúva, faça lá o favor de regressar à Bulhosa e recolher o tal exemplar que não a convenceu. Vai que não se arrepende!

Brava Mor, estamos cá para compensar as ausências de umas e outras. Não te preocupes com as artes. Primeiro, as filosofias...:)

Rocha disse...

Trata-se de um texto simples e agradável que se lê rápidamente. Subscrevo o conselho: a ler! Tanto mais que espevita, de forma subtil, a tecla esotérica da Ilha e dos Ilhéus.

Anónimo disse...

muito obrigado pela sugestão, conhecia a sra. de ouvir o nome mas nunca li nada dela... a ver se o faço ;)

beijo

mad cow disse...

Pois é, a mana mais nova subscreve a recomendação! Vale mesmo a pena... E, cá para nós, é perfeitamente normal que a senhora se tenha apaixonado pelas ilhas, n concordam??

RD disse...

Perfeitamente normal mad cow! E quem diga o contrário não sabe do que fala, hehe.

Caiê, essa é deliciosa, gosto muito de historietas dessas. É bem possível que tenha sido por causa da tal graciosa Rita. :)
Só não consigo gostar de angelica... argh. Antes subir o Pico a compasso de bagaço. Não é dafundo? :)

A ilha dentro de mim disse...

Não sou a fada do livro, mas posso emprestar-te o meu. Se quiseres, levo quando for para o Faial dia 21. É só dizeres!