quinta-feira, 5 de maio de 2005

A Opereta do Hospital do Algarve

Há dias em que a política me enoja. Não falo da verdadeira política, aquela que traça caminhos, escolhe desafios e estabelece objectivos. Falo da outra, aquela que elege a intriga como arma de conquista do poder, a mentira como forma de seduzir o eleitorado e a divisão como caminho para reinar.

A polémica em torno da construção hospital central do Algarve, que num minuto vai avançar e no minuto seguinte já não vai, ou vice-versa, é um exemplo do pior que se pode ver na nossa moderna democracia. Sócrates prometeu o hospital em campanha eleitoral. Correia de Campos anunciou publicamente que a construção não avançava. A população protestou, liderada pelo social-democrata Macário Correia, e logo Sócrates se apressou a dizer que o avanço do hospital nunca esteve em questão, só os estudos é que não foram feitos pelo anterior Governo, por isso a construção vai demorar um pouco mais...

Com sorte, só na próxima legislatura, se os algarvios deixarem o assunto morrer. Ou talvez até avance nesta, se for a única forma de calar o autarca da oposição, independentemente do ministro entendido em saúde desaconselhar. Se calhar, Correia de Campos até se demite por causa disto. Mas não sejamos ingénuos! Isso seria o fim da telenovela, que assim mais pareceria venuzuelana do que portuguesa.

O mais provável, é que novos capítulos se estejam a preparar. Quer-me parecer que nenhum dos lados vai abdicar de fazer render o peixe enquanto puder e os telejornais ajudarem. Certo, certo, é que se adivinham intrigas da mais baixas, mentiras das mais sedutoras e grandes divisões. O cenário ideal para entrarem em acção os “Fantasmas da Opereta”, primorosamente descritos por Paulo Baldaia, num artigo do Diário de Notícias publicado a 16 de Abril.

Nesse artigo, o editor executivo do DN, especialista em assuntos de política, dizia que “vivemos num país assombrado”, onde a política é feita “num jogo de sombras em que manda menos quem aparece e mais quem está escondido”. Resta saber quem é o fantasma que vai dominar esta opereta/telenovela, recheada de actores de série B, cantores desafinados e maestros sem ouvido. O sucesso na bilheteira é que já está garantido. Como em qualquer opereta de qualidade duvidosa, devidamente anunciada pela televisão!

2 comentários:

Caiê disse...

Quem fica sempre a perder é o Zé Povo, olhe-se de que lado se olhar...
Eu já tive de ser atendida de urgência no que é o Hospital de Faro... Das piores experiências da minha vida. E todos com quem falo têm a mesma opinião. Nada contra Faro, bela terra, boa gente... mas aquele hospital, era erguê-lo de novo, com outro TUDO!

RD disse...

Não tenhas dúvidas amiga, vai vir aí o second round de verborreia novelesca cheia de floreados.
Já que falas nas novelas venezuelanas digo-te que até fazem mais sentido para refletir a política portuguesa, senão vejamos: ouvimo-los ontem, mas só amanhã é que mexem com a boca.
Hoje só nos dão imagens pindéricas.
Estou enojada disso tudo. Farta de gente com cabeça de pionese.
Se não gostasse tanto do meu país e não me preocupasse minimamente ía pregar para outra freguesia. :P