Depois de ler os inúmeros comentários sobre a ausência dos jornais faialenses da Internet e os problemas da imprensa faialense, achei que o assunto merecia um novo desenvolvimento, porque o assunto tem contornos mais profundos do que possa parecer à primeira vista.
Pelo que a experiência profissinal me permitiu conhecer do mercado faialense e dos bastidores dos três jornais faialenses, não tenho dúvidas em dizer que o principal problema dos jornais faialenses é falta de verbas para tudo. Mas apesar de ser o mais importante, não é o único grande problema.
Talvez dois jornais diários e um semanário sejam demais para um público limitado a uma ilha com pouco mais de 15 mil habitantes, mas esse público tornou-se ainda mais limitado no momento em que desinteressou da vida do burgo e passou a olhar exclusivamente para o seu próprio umbigo, que é como quem diz para os seus próprios interesses, sejam eles políticos ou financeiros.
Quem vê de fora os jornais, não sabe que há muitos que alugam o espaço de publicidade da imprensa faialense e depois não pagam o que devem. E se os jornais não recebem a publicidade que vendem, também não podem pagar a tempo e horas aos seus fornecedores e jornalistas. E se não pagam a tempo e horas, a credibilidade perde-se e a motivação para o trabalho acaba por desaparecer.
Entramos, portanto, num círculo vicioso que é muito difícil de quebrar. Ciclo este que ainda é reforçado por outros pequenos problemas, como os provocados pelos que exigem que se noticie as actividades de uma empresa ou instituição, a que se juntam os que retiram a publicidade ou desistem da assinatura de um jornal quando são alvos da mais pequena crítica.
Quando o mercado é pequeno, as alternativas não são muitas, e por mais que as pessoas pensem que é muito fácil pôr um jornal na rua, está provado que um jornal de qualidade não sobrevive sem dinheiro.
Ao criticar-se a ausência dos jornais na Internet, é preciso olhar para o outro lado também. É verdade que a Web pode ser um bom meio de publicitar os títulos, mas também pode ajudar a afundá-los. Não só porque os leitores têm tendência a deixar de comprar o jornal se o puderem ler online (ainda que só as notícias principais), mas também porque é precisar pagar a manutenção e a actualização da página na Internet.
Por mais barato que seja ter um jornal online, não podemos esquecer que todos os tostões contam para a sobrevivência dos pequenos. E, neste caso, a sobrevivência dos três jornais parece ser já um jogo de vida ou morte, cujo desfecho pode não demorar muito a ser conhecido.
Na verdade, esse desfecho corre mesmo o risco de ser acelarado pela nova lei de apoio à comunicação social que o Governo Regional vai aprovar. Ao acabar com grande parte dos apoios à imprensa açoriana, Carlos César vai fechar a porta a muitos jornais pequenos. Resta saber se os faialenses conseguirão manter a sua aberta. E até quando!
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8 comentários:
De facto parece-me complicado.
Tenho consciência disso que nos alertas a ter em conta, mas também acho que tudo se faz quando há vontade pura e boas intenções.
Será que nos vamos aguentar?
Estava a ver que não davas uns bitaites sobre o assunto! ;)
Tive longe, por isso não falei antes. Mas cá estou de volta, com muita vontade de partir a louça... eheheh!
Quanto às boas intenções, eu sei que elas existem. Mas também sei que se esgotam. E, infelizmente, muitas vezes isso acontece mais rapidamente do que devia...
Este post é a radiografia perfeita da presente situação.
O mal não está só num lado.
Para os jornais faialenses, não serão precisos grandes cortes para eles, mal como estão, caírem de vez. Aliáz, para algum deles já se esperava isso mesmo de há uns tempos a esta parte.
Para uma estrutura frágil, um pequeno abanão é suficiente para causar o efeito dominó.
Se ainda da desgraça nascer algo de novo e bom, mas, sinceramente, não acredito.
A sociedade faialense está amorfa e realmente é necesário um abanão e dos grandes!
Uma palavra... Pessoalmente, só aí vou de férias, pois há seis anos que trabalho noutros locais; mas continuo a dizer o que sempre disse - a sociedade somos todos nós. Isso de dizer que está paradinha e nada fazer, já era! Todos temos de fazer a nossa quota parte de arregaçar as mangas e espevitar as gentes para coisas novas! A vida e os ambientes construímo-los nós todos.
Só que quando começas a fazer algo (ou a tentar) e te chutam, arrumam ou te isolam, concordarás que no mínimo (se não for em grupo) será dificil. (já aconteceu comigo)
Se dermos a volta à ilha, iremos conseguir uma boa centena de pessoas amantes da sua terra com capacidade, seriedade e honestidade suficientes, mas que (infelizmente) também ja foram chutadas, se arrumaram e acomodaram no seu canto.
É aqui que eu defendo a ideia do tal espaço, seja ele uma associação, grupo, fórum ou até simplesmente um blog onde se debatam estes problemas, duma forma interessada e honesta, a ver se do agitar das águas, da troca das ideias, até mesmo da discussão, o tal espirito ilhéu acord< para a vida...
Mais. A sociedade faialense está amorfa, mas também por via de interesses instalados. Há uma data de anos, nas hostes partidárias imperavam os interesseiros, que eram, ao mesmo tempo, poucos competentes e poucos honestos. Foram aos poucos arrumando com as massas, estas desistiram da luta e o caminho ficou livre para eles. Um pequeno exercício: Não é hoje a realidade que a maior parte dos militantes políticos (de todos os partidos) na sua maioria tem esta identificação?
Ou seja, quem queira abraçar um projecto politico ou a causa pública com vontade de mudar o estado das coisas, naturalmente, (neste cenário) irá mexer com os interesses de diversas pessoas, que ainda por cima são os que estão nos locais de decisão (instituições governativas ou partidos) o resultado é lógico, ganham eles e desistem os outros.
Aqui começou, há 20 anos, o estado de sítio actual.
Arrumar estes oportunistas que só defendem o tacho ou os interesses pessoais e dos amigos, é muito difícil.
Por isso, tem que ser um trabalho de base, a começar pelo despertar da consciência colectiva.
É evidente que é um trabalho de todos, (a sociedade é isso mesmo).
Por isso este blog (e outros) já é um primeiro passo.
Concordo plenamente com o Periquito. Falar é fácil, mas fazer é que nem por isso. Também já tive desse lado e sei bem o que é ser pressionada, directa ou indirectamente...
Infelizmente, no Faial as coisas acabam por se arrumar em volta da política. O lema dos partidos é "se não estás connosco, então estás contra nós" e isso condiciona tudo.
Como não sou uma pessoa de me acomodar, preferi mudar de ares. Posso dizer que estou a acumular outras experiências e a ganhar novas forças para um dia voltar ao ataque... Porque esse dia vai chegar, mais tarde ou mais cedo. Podem ter a certeza! Os faialenses não se livram de mim assim tão fácil! eheh!
é por isso que digo "adeuzinho" à política (apesar de gostar de «politicar»).
longe de mim cair no que critico.
volta amiga, volta! ;)
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