sábado, 23 de julho de 2005

Que fazer com os escritores açorianos?

A revista Grande Reportagem de hoje publica uma interessante reportagem de Joel Neto, sob o título que aborda o encerramento da editora Salamandra e questiona o futuro da literatura açoriana. “Que farei com esta bruma?” é o título do texto do jornalista terceirense, que deixa no ar muitas questões pertinentes. Recomendo a leitura, mas para quem não tiver acesso ao original, deixo aqui alguns excertos.

«“A morte de uma editora é sempre de lamentar”, reage Eugénio Lisboa, poeta, ensaísta, crítico literário e um dos académicos do Continente que, nos últimos anos, mais atenção têm dado à literatura açoriana. “No caso da Salamandra, essa morte é especialmente grave, porque não haverá muitas outras editoras dispostas a publicar os autores dos Açores. Corremos o risco de calar por um período relativamente longo uma série de vozes importantes da língua portuguesa.”

(...) Que uma boa parte destes autores fique agora privada de editor há-de ter um lado bom e outro mau. Francisco José Viegas, escritor, jornalista e crítico continental que há muitos anos mantém atenção especial ao fenómeno, tenta não dramatizar: «Se calhar, a literatura açoriana precisa é de ser menos açoriana e mais literatura», dispara.

(...) E mesmo Nuno Costa Santos (...), um dos últimos autores a publicar na colecção Garajau – e o mais jovem ficcionista a aderir à Salamandra em muitos anos – também acha que o desespero será o pior dos caminhos, e prefere ironizar: “À partida, não é, digamos, uma boa notícia. A Salamandra e Bruno Ponte eram um porto de abrigo para a escrita açoriana (e uma forte forma de incentivo). Mas, ao mesmo tempo, isto poderá funcionar como desafio. Utilizando a facilidade da metáfora, pode ser que agora muitos escritores açorianos se façam finalmente ao mar (eu, por exemplo, já comprei as braçadeiras).”»

2 comentários:

Caiê disse...

Lamento que a Salamandra feche as portas... Mas por outro lado, acho que os escritores açorianos têm agora a oportunidade de se medirem "sem contingente especial". Afinal, porquê ter sempre o apoio de uma editora que publica autores açorianos? Se formos a ver bem, é um pouco ridículo... Até parece que um escritor não vale por si, independentemente do local de nascimento. Pois, façam-se à vida, senhores! Toca a competir com toda a gente, como é de direito!

A ilha dentro de mim disse...

Concordo plenamente, minha linda! Façam-se mesmo à vida, que ser açoriano não é garantia de qualidade. Pelo menos neste caso...