Depois de aqui ter deixado o post sobre a nomeação de Frederico Cardigos para director regional do Ambiente, entrei na página do DOP e comecei a ler o Diário de Bordo da expedição MoMareto, que terminou dia 5 com a chegada ao Faial. Dei de caras com um post assinado pelo ainda investigador, intitulado "As despedidas começam". Por ter um oportuno duplo sentido e uma profundidade interessante, deixo aqui a transcrição das suas palavras.
«Dei por mim a dormir em trechos de três horas (vários por noite) desde há mais de uma semana. As noites são interrompidas pelos quartos ou pelas manipulações. Durante o dia, não resisto às impecavelmente confeccionadas refeições, a dar um "coup de main" à Inês nas suas amostragens ou a bisbilhotar os seres fantásticos que o biólogo Patrick Briand vai processando no laboratório. Esta actividade, misturada com os produtos químicos que utilizamos, tem produzidos efeitos semi-alucinogénicos engraçados. Por exemplo, hoje, ao olhar para as imagens das fontes hidrotermais de grande profundidade (o Rainbow em particular), dei por mim a pensar na criação da Terra. Achei que Deus devia estar a brincar com as linhas direitas e as linhas tortas e ainda não sabia bem o que lhes fazer. Finalmente, criou a terra, os rios, o mar, depois as regras que mais tarde vieram, através da evolução, dar nas plantas e nos animais. Ao olhar para a criação ficou contente, mas não sabia o que fazer com as aqueles traços iniciais, que não se ajustavam, de forma alguma, à realidade e organização terrestre. "Sendo assim", poderá ter pensado Deus, "vou colocá-las onde ninguém veja, lá bem no fundo do mar". Agora, nós damos por nós a olhar para estas estruturas, a tentar interpretá-las, a tentar dar-lhe uma coerência ou sequência que não têm nem podem ter. São apenas as brincadeiras de Deus.»
Frederico Cardigos, 3/09/2006
in "Diário de Bordo da expedição MoMareto
quinta-feira, 7 de setembro de 2006
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3 comentários:
É um diário de bordo muito poético... ;)
Prefiro chamar-lhe profundo...
Ah bom! Há cá veia para a cultura também. Isto promete.
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