O Jornal dos Açores fechou. As notícias dizem que o diário não vai para as bancas desde segunda-feira e que a culpa é das dívidas acumuladas, a maior parte das quais com a Nova Gráfica, empresa que imprimia o jornal. A culpa, digo eu, é mais uma vez do mercado. Ou melhor, do leitor - que não se mexe para ler o que é bom e tem sempre dinheiro para comprar o que não presta!
Tenho pena de ver chegar ao fim um projecto que teve tudo para dar certo. Mas ainda que tenha durado pouco, o que interessa é que existiu. Porque aquilo que mudou e as pessoas que influenciou, isso não morrerá nunca!
Boa sorte para a equipa do Jornal dos Açores! Que final desta aventura seja apenas o começo de muitas outras, quiçá mais felizes!
sexta-feira, 29 de setembro de 2006
quarta-feira, 20 de setembro de 2006
«Reaprendi a olhar o mundo»
«Passaram mais de seis meses desde a última crónica que alinhavei neste jornal. Seis meses que pareceram voar, embora cada dia parecesse por vezes nunca mais acabar. Não, não foram seis meses de trabalho. Nem de doença. Nem de viagens. Apenas os primeiros meses de uma nova fase da minha vida: a maternidade.
No dia em que o meu filho nasceu, pensei que estava apenas a ser mãe pela primeira vez. Nada que a minha mãe e a minha avó não tivessem já feito, tal como muitas outras mulheres ao longo de todos os séculos. Talvez por isso, quando me perguntaram pela primeira vez se a maternidade mudava mesmo a pessoa, respondi que não tinha dado por nada. E, na verdade, não tinha. Ainda!
Contudo, ao longo destes meses fui percebendo que tudo mudou no dia em que o meu filho nasceu. (Isto de escrever “o meu filho” tem um peso estranho. Vejo-me de cabelos brancos e rugas pesadas a pronunciar estas palavras de posse, de sentimento de pertença. Como se o legado que deixo tivesse o peso de um feito inalcançável ao comum dos mortais. Como se o meu filho representasse a minha própria mortalidade.)
Confesso que o cansaço e a excitação das primeiras semanas não me deixava tempo para sentir, e muito menos para reflectir. Vivia para o momento, como se o futuro do meu bebé dependesse de cada minuto que passasse com ele.
Perdi a conta das noites mal dormidas, das fraldas recheadas, das roupas bolsadas e dos choros intermináveis. Mas jamais esquecerei os primeiros sorrisos, os olhares deslumbrados, os carinhos desajeitados e as primeiras grandes descobertas.
Agora, compreendo que ser mãe não mudou apenas a minha vida. Mudou, sobretudo, a minha perspectiva do mundo. Foi todo um novo universo que se abriu para mim, como se o trabalho de parto tivesse rompido a camada protectora da minha alma.
Poderá parecer exagero. Não sei sequer se outras mães sentiram o mesmo quando tiveram o seu primeiro filho. Mas sei que me senti deslumbrada por cada olhar, cada sorriso, cada gesto do meu rebento. Como se em cada progresso dele eu revivesse o caminho que percorri quando vim a este mundo. Como se também eu tivesse nascido de novo.
Na falta de vídeos do meu próprio desenvolvimento, e perante umas poucas fotografias dos primeiros meses, dei por mim estreitanto laços com a família em busca dos segredos da minha infância. Como se a criança que eu fui um dia encerrasse a solução para todos mistérios que agora vão dando corpo ao meu filho.
Comecei por pensar que a minha meninice me poderia ajudar a ser uma melhor mãe. Mas sei que por mais que busque a essência de mim, não será suficiente para entrar na essência do meu filho. Terei, primeiro, que sentir o passar do tempo e acompanhar a descoberta do mundo pelo seu olhar. Só então poderei perceber que a sua essência é para ser amada e não apenas compreendida. Tal como a essência do mundo é para ser vivida e não apenas descodificada.
Entretanto, vou continuar a usar os olhos do meu bebé para olhar o mundo pela primeira vez. Tenho a certeza que vou aprender mais do que imagino.»
Lídia Bulcão, in Jornal dos Açores, de 19 de Setembro de 2006
No dia em que o meu filho nasceu, pensei que estava apenas a ser mãe pela primeira vez. Nada que a minha mãe e a minha avó não tivessem já feito, tal como muitas outras mulheres ao longo de todos os séculos. Talvez por isso, quando me perguntaram pela primeira vez se a maternidade mudava mesmo a pessoa, respondi que não tinha dado por nada. E, na verdade, não tinha. Ainda!
Contudo, ao longo destes meses fui percebendo que tudo mudou no dia em que o meu filho nasceu. (Isto de escrever “o meu filho” tem um peso estranho. Vejo-me de cabelos brancos e rugas pesadas a pronunciar estas palavras de posse, de sentimento de pertença. Como se o legado que deixo tivesse o peso de um feito inalcançável ao comum dos mortais. Como se o meu filho representasse a minha própria mortalidade.)
Confesso que o cansaço e a excitação das primeiras semanas não me deixava tempo para sentir, e muito menos para reflectir. Vivia para o momento, como se o futuro do meu bebé dependesse de cada minuto que passasse com ele.
Perdi a conta das noites mal dormidas, das fraldas recheadas, das roupas bolsadas e dos choros intermináveis. Mas jamais esquecerei os primeiros sorrisos, os olhares deslumbrados, os carinhos desajeitados e as primeiras grandes descobertas.
Agora, compreendo que ser mãe não mudou apenas a minha vida. Mudou, sobretudo, a minha perspectiva do mundo. Foi todo um novo universo que se abriu para mim, como se o trabalho de parto tivesse rompido a camada protectora da minha alma.
Poderá parecer exagero. Não sei sequer se outras mães sentiram o mesmo quando tiveram o seu primeiro filho. Mas sei que me senti deslumbrada por cada olhar, cada sorriso, cada gesto do meu rebento. Como se em cada progresso dele eu revivesse o caminho que percorri quando vim a este mundo. Como se também eu tivesse nascido de novo.
Na falta de vídeos do meu próprio desenvolvimento, e perante umas poucas fotografias dos primeiros meses, dei por mim estreitanto laços com a família em busca dos segredos da minha infância. Como se a criança que eu fui um dia encerrasse a solução para todos mistérios que agora vão dando corpo ao meu filho.
Comecei por pensar que a minha meninice me poderia ajudar a ser uma melhor mãe. Mas sei que por mais que busque a essência de mim, não será suficiente para entrar na essência do meu filho. Terei, primeiro, que sentir o passar do tempo e acompanhar a descoberta do mundo pelo seu olhar. Só então poderei perceber que a sua essência é para ser amada e não apenas compreendida. Tal como a essência do mundo é para ser vivida e não apenas descodificada.
Entretanto, vou continuar a usar os olhos do meu bebé para olhar o mundo pela primeira vez. Tenho a certeza que vou aprender mais do que imagino.»
Lídia Bulcão, in Jornal dos Açores, de 19 de Setembro de 2006
terça-feira, 19 de setembro de 2006
Eu li...
... um delicioso artigo de João Ferreirinho, no Diário Económico, que recomendo especialmente a quem tem por hábito dizer “Eu não li, mas...”.
É só clicar em... http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico
É só clicar em... http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico
/opinion/columnistas/pt/desarrollo/689518.html
segunda-feira, 11 de setembro de 2006
11 de Setembro
Um post em memória das vitimas americanas do 11/9; um post em memória das vítimas dos amercinos; um post de pesar pela existência de um senhor chamado Bush Jr; um post de pesar por outro senhor que habita no nº10 de Downing Street; um post de raiva pela confusão em que estes senhores transformaram o mundo pós atentados ás torres gémeas....um post de pesar para mim, para ti, para todos que tem de viver neste mundo sem lei, sem coração, sem amor e sem paz.
sexta-feira, 8 de setembro de 2006
O Doce das Palavras
Já nem me lembro a última vez em que me sentei em frente do computador, com uma “folha” em branco e comecei a escrever. Durante muito tempo tinha como obrigação semanal escrever uma pequena crónica, que com o tempo se transformou num fardo bastante pesado e que me fez perder a paixão pelas palavras.
Não sei bem porque fiquei com esta fobia, stress de arranjar todas as semanas um tema novo, manter prazos quando se está com trabalho até “á ponta dos cabelos”, ou simplesmente, porque não tinha NADA para dizer.
Durante bastante tempo senti isso...não restava nada para dizer!
Não sei bem porque fiquei com esta fobia, stress de arranjar todas as semanas um tema novo, manter prazos quando se está com trabalho até “á ponta dos cabelos”, ou simplesmente, porque não tinha NADA para dizer.
Durante bastante tempo senti isso...não restava nada para dizer!
A minha voz desapareceu debaixo de uma tonelada de coisas que me ocuparam a mente e o coração durante anos.
Hoje não quero escrever sobre nada em concreto....(não me vá voltar a fobia) mas quero dizer que recuperei a voz, o bichinho de escrever e o amor ao som mágico das teclas enquanto escrevo.
A vida é uma coisa engraçada, neste blog de bravas amigas voltei a encontrar o doce das palavras.
Hoje não quero escrever sobre nada em concreto....(não me vá voltar a fobia) mas quero dizer que recuperei a voz, o bichinho de escrever e o amor ao som mágico das teclas enquanto escrevo.
A vida é uma coisa engraçada, neste blog de bravas amigas voltei a encontrar o doce das palavras.
quinta-feira, 7 de setembro de 2006
Refilanço
Venho por este meio refilar bem alto........NINGUÉM ME DEU OS PARABÉNS NO GADO!!!! sniff, sniff, sniff!!!
Provavelmente não me posso queixar, porque eu também nestes últimos meses deixei o pasto ao abandono...com a desculpa de sempre...trabalho!! A verdade é sinto falta do nosso pasto, das nossas conversas, das piadinhas certeiras e ao ler o post da elbravinha sobre a amizade apercebi-me que este blog alimenta amizades e cria amizades.
A todas e em especial ao pasto, as minhas desculpas pelo abandono desta vaca desnaturada.
Que o futuro (e o tempo mais frio) traga mais posts, mais amizade e novos elementos ao pasto.
Beijos grandes para todos.
Provavelmente não me posso queixar, porque eu também nestes últimos meses deixei o pasto ao abandono...com a desculpa de sempre...trabalho!! A verdade é sinto falta do nosso pasto, das nossas conversas, das piadinhas certeiras e ao ler o post da elbravinha sobre a amizade apercebi-me que este blog alimenta amizades e cria amizades.
A todas e em especial ao pasto, as minhas desculpas pelo abandono desta vaca desnaturada.
Que o futuro (e o tempo mais frio) traga mais posts, mais amizade e novos elementos ao pasto.
Beijos grandes para todos.
Cardigos e as brincadeiras de Deus
Depois de aqui ter deixado o post sobre a nomeação de Frederico Cardigos para director regional do Ambiente, entrei na página do DOP e comecei a ler o Diário de Bordo da expedição MoMareto, que terminou dia 5 com a chegada ao Faial. Dei de caras com um post assinado pelo ainda investigador, intitulado "As despedidas começam". Por ter um oportuno duplo sentido e uma profundidade interessante, deixo aqui a transcrição das suas palavras.
«Dei por mim a dormir em trechos de três horas (vários por noite) desde há mais de uma semana. As noites são interrompidas pelos quartos ou pelas manipulações. Durante o dia, não resisto às impecavelmente confeccionadas refeições, a dar um "coup de main" à Inês nas suas amostragens ou a bisbilhotar os seres fantásticos que o biólogo Patrick Briand vai processando no laboratório. Esta actividade, misturada com os produtos químicos que utilizamos, tem produzidos efeitos semi-alucinogénicos engraçados. Por exemplo, hoje, ao olhar para as imagens das fontes hidrotermais de grande profundidade (o Rainbow em particular), dei por mim a pensar na criação da Terra. Achei que Deus devia estar a brincar com as linhas direitas e as linhas tortas e ainda não sabia bem o que lhes fazer. Finalmente, criou a terra, os rios, o mar, depois as regras que mais tarde vieram, através da evolução, dar nas plantas e nos animais. Ao olhar para a criação ficou contente, mas não sabia o que fazer com as aqueles traços iniciais, que não se ajustavam, de forma alguma, à realidade e organização terrestre. "Sendo assim", poderá ter pensado Deus, "vou colocá-las onde ninguém veja, lá bem no fundo do mar". Agora, nós damos por nós a olhar para estas estruturas, a tentar interpretá-las, a tentar dar-lhe uma coerência ou sequência que não têm nem podem ter. São apenas as brincadeiras de Deus.»
Frederico Cardigos, 3/09/2006
in "Diário de Bordo da expedição MoMareto
«Dei por mim a dormir em trechos de três horas (vários por noite) desde há mais de uma semana. As noites são interrompidas pelos quartos ou pelas manipulações. Durante o dia, não resisto às impecavelmente confeccionadas refeições, a dar um "coup de main" à Inês nas suas amostragens ou a bisbilhotar os seres fantásticos que o biólogo Patrick Briand vai processando no laboratório. Esta actividade, misturada com os produtos químicos que utilizamos, tem produzidos efeitos semi-alucinogénicos engraçados. Por exemplo, hoje, ao olhar para as imagens das fontes hidrotermais de grande profundidade (o Rainbow em particular), dei por mim a pensar na criação da Terra. Achei que Deus devia estar a brincar com as linhas direitas e as linhas tortas e ainda não sabia bem o que lhes fazer. Finalmente, criou a terra, os rios, o mar, depois as regras que mais tarde vieram, através da evolução, dar nas plantas e nos animais. Ao olhar para a criação ficou contente, mas não sabia o que fazer com as aqueles traços iniciais, que não se ajustavam, de forma alguma, à realidade e organização terrestre. "Sendo assim", poderá ter pensado Deus, "vou colocá-las onde ninguém veja, lá bem no fundo do mar". Agora, nós damos por nós a olhar para estas estruturas, a tentar interpretá-las, a tentar dar-lhe uma coerência ou sequência que não têm nem podem ter. São apenas as brincadeiras de Deus.»
Frederico Cardigos, 3/09/2006
in "Diário de Bordo da expedição MoMareto
O homem certo!
Frederico Cardigos vai substituir Eduardo Carqueijeiro na Direcção Regional do Ambiente a partir de meados deste mês. Investigador do Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores, Cardigos é um conceituado investigador, com reputação nacional e internacional. Mas esta descrição seria muito parca para descrever o homem por detrás no nome. Quem priva de perto com ele sabe que é um trabalhador incansável e de uma eficácia extrema. Mas não só. Tem ideias frescas, é atento aos pormenores e sabe olhar muito para além da ciência e do mar. A sua participação em projectos culturais como a Associação dos Amigos do Conservatório da Horta ou a fundação do jornal Tribuna das Ilhas são disso exemplo, já para não falar da sua ligação ao Clube Naval da Horta. Foi, portanto, com grande alegria que soube da sua nomeação para o cargo. Tenho a certeza que também aí será incansável!
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