“Mas foi apenas há um ano e meio que Paula, 38 anos, e Stefan Brune, 39, conheceram os irmãos, de 10 e 11 anos, e lhes perguntaram se queriam viver com eles, na Alemanha. (…) Nascidos na região do Porto, foram retirados aos pais após muito tempo de negligência e maus tratos.
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“mais de metade dos menores que hoje aguardam novos pais (…) «têm mais de 7 anos e problemas de saúde ou só podem ser adoptados com os seus irmãos, em grupos de duas, três ou mesmo cinco crianças», explica Graciete Palma da Silva, 62 anos, coordenadora do Gabinete Técnico de Adopção Internacional.
É por isso que o tempo médio de espera por uma criança é, actualmente, de cinco a seis anos. Quando existe outra abertura, o processo torna-se mais rápido. Foi o que sucedeu com o casal Brune: «Os serviços portugueses resolveram tudo em dois meses».
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A máquina começou a desbravar terreno entre os cabelos rebeldes de Filipe. À medida que as madeixas caíam no chão, rolavam também as lágrimas pela cara da sua mãe adoptiva. O couro cabeludo do menino estava coberto de cicatrizes. «Só olhando para as maiores, contei 27…», recorda Paula.
Nos primeiros meses a adaptação foi difícil. (...)
Um ano e meio depois da mudança dos irmãos para a Alemanha, é difícil imaginar uma família mais cúmplice. Quem observe Carlos e Filipe a passear de bicicleta pelas ruas floridas da pequena cidade alemã (que não identificamos, a pedido da família), a contar as aventuras das suas férias em Praga e no Egipto e a chamar carinhosamente pela «mãeiii» ou pelo «papi», só verá alegria – é como se uma borracha tivesse apagado todas as suas negras experiências.”
Ana Navarro Pedro, Isabel Marques da Silva e Patrícia Fonseca, in Visão de 21/06/2007
Era óptimo que existissem mais pessoas como estas...