Andava eu perdida no meio de jornais antigos e revistas ainda mais velhas, pesquisando para um trabalho que estou a preparar, quando deparei com um artigo muito pertinente intitulado “E depois de César e de Victor?”, onde se analisa o futuro da política nos Açores. O artigo foi publicado na revista Saber Açores há quase um ano, mas as palavras do jornalista João Paz (que já nem está a trabalhar na revista) continuam tão actuais como então. Vejam só.
Numa pequena caixa, intitulada «Os rodinhas do PSD», o jornalista escreve: «Um outro aspecto, é o facto de, após a geração de Victor Cruz, existir um enorme fosso com os actuais militantes da JSD. Nunca houve uma preocupação de harmonizar a diferença geracional, ao contrário do PS, que atenua esse salto com nomes de algumas personalidades que dão crédito ao projecto socialista».
No caso do Faial, isso é notório. Basta ver o caso dos ex-líderes da JS, João Castro, actual presidente da Câmara Municipal da Horta, e João Bettencourt, recém empossado deputado à Assembleia Regional. É verdade que nenhum dos dois chegou lá directamente por votação das urnas. Mas estavam nas listas e foram substituindo os mais velhos à medida que estes foram saindo, por motivos de saúde ou para voos mais altos.
Já no JSD do Faial, não vejo o mesmo acontecer. E nem posso dizer que é por falta de vontade dos próprios. Parece-me mais que é por vontade dos históricos, aqueles que de tão empedernidos não deixam ninguém fazer nada de novo, nem apresentar uma ideia que não vá de encontro às suas. Também aqui é mais ou menos como escrevia o João Paz, ao dizer que «na JSD/A não tem havido a preocupação de escolher líderes fortes (que os há), e de chamar à militância activa esses jovens, que se reduzem à velha actividade eleitoral de agitar e distribuir bandeiras, vestirem-se todos de igual para preencherem os fundos dos palcos nos comícios.»
As citações que aqui transcrevi (entre aspas, claro!), não passam de duas frases retiradas de uma revista velha. Mas depois de as ler fiquei com a certeza de afinal o problema não é só dos jovens faialenses. Afinal, a culpa é do partido que escolheram. O que só torna tudo mais assustador.
Mais do que isto, é notório que o afastamento dos jovens dos partidos não é um problema só do PSD. Tal como o afastamento das elites da política afecta todos os partidos, seja nos Açores ou no resto do país. E se o país não acordar a tempo, todos vamos sofrer com isso...
(Desculpa jotinha Brava, mas há verdades que não se podem esconder para sempre...)
quarta-feira, 30 de março de 2005
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8 comentários:
Eu estou de pleno acordo.
Sempre o disse cá, lá e em todo o lado.
Fizeste bem em desterrar. Keep on searching que 'tás bem.*
E as maiores felicidades ao João Bettencourt, que é meu amigo (nosso). :)
O PSD/A (leia-se sobretudo João Bosco Mota Amaral) geriu muito bem, em seu proveito - se calhar estou a ser demasiado DURO, mas é a conclusão a que chego - a situação aqui nos Açores logo após o 25 Abril. Mas portou-se - e nisso se calhar lá tinha as suas razões - como se fosse um ser eterno.
A geração que podia fazer a transição (podia fazer uma pequena lista, mas não vale a pena) foi pura e simplesmente neutralizada. O resultado está à vista!
Vai passar ainda mais uma geração, com os "do costume" manobrando na penumbra com um réstia de esperança de ainda poderem - nem que por pouco tempo - regressar à ribalta.
O João Paz viu bem "a coisa". Alias, só não vê quem não quer!
Temo que a cruzada das jotinhas seja um problema mais profundo, o da estúpida ignorância dos valores dos jovens que os “adultos” (...) teimam em fazer vincar. Há três anos, estava eu pela primeira vez na Escola Secundária de Ribeira Grande e convidaram-me para participar no Fórum interno que deveria debater o Projecto Educativo de Escola. Na minha comunicação defendi o regresso da filosofia (o saber pensar), da antropologia ( o eu aluno) e a Axiologia (os valores societais perdidos e os dos jovens alunos) à escola. A sala ouviu, mas houve um professor de filosofia, que por sinal até colabora na Universidade, que se atirou a mim, como um cão a um osso muito saboroso (não sei se por ser madeirense, ou por ser professor de ginástica) afirmando convictamente que os alunos não tinham valores....puuffff..precisam que lhes conte o resto? Não vou contar...mas fica o exemplo do tipo do “adulto” que somos (pelo menos alguns) e a forma como confiamos nos adultos (do futuro) ...já pareço um cota a falar eeh eh.
Pois é, «os do costume» é que estragam tudo. Manobram tudo e todos como ninguém, mas não são capazes de ver para além da sua quintinha. E depois queixam-se!
E essa mania de dizer que os jovens de hoje não valem nada, não têm valores, não sabem quanto custa a vida, etc, etc, já está tão gasta que não sei como é que ainda pega. Será que ninguém inventa nada de novo para mostrar que os jovens podem não saber tudo, mas tem mais capacidade de aprender com os erros do que o resto do mundo? Além disso, sabem aquilo que os outros lhes ensinam. Sim, os outros que tem a mania que sabem tudo...
JPM, concorde eu ou não, teremos esta conversa acompanhada pelo tal cházinho da casa brevemente. Aqui não discuto política, sem ser a que me diz directamente respeito, e nem que seja por uma questão de ética pessoal.
Miguel, grave é ter sido um professor de filosofia a dizê-lo. Diria mesmo MUITO grave. É como digo, por um que não tem responsabilidade pagam todos os outros, e não estou a falar da classe, falo de nós todos.
Os valores da sociedade não estão perdidos, estão é diferentes e há que saber interpretá-los e adequá-los.
Elbravinha minha amiga, é preciso é que não se deixe que os «do costume» levem a sua avante, só se tiverem razão, aí devemos abaixar a bolinha, caso contrário dar a cara e defender a nossa posição.
É como digo a minha mãe, temos o dever e a capacidade de aprender com eles, mas é preciso que também eles tenham boa vontade e capacidade de aprender connosco. Senão isto não vai funcionar nunca.
As juventudes partidárias estão passando pelas ruas da amargura. É fácil atribuir culpas, mas o comportamento da nossa classe política aliado à vida facilitada que a juventude leva, apaparicada e sobreprotegida tem levado ao afastamento e ao desinteresse. Não pondo em causa os jovens referidos, a maioria dos que dirigem os jotas são meros oportunustas à espera da sua oportunidade. estrelinha ajuizada
Nisso concordamos estrelinha.
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